verdade viva °°°: janeiro 2011

29.1.11

(...)

Encontrou-o num bar, num desses de luz fraca, cheiro de madeira apodrecida misturado com poeira e vodca, onde os homens coçam o saco e cospem no chão enquanto disputam frenéticos uma partida de bilhar. Ele estava com uma expressão serena no rosto, como se tivesse acabado de aceitar ter sido realmente derrotado.
Sentou-se ao seu lado e acompanhou-o no pedido - uma água e um copo com gelo, por favor!
Analisava-o de ponta à cabeça, percorrendo seus poros e observando onde a tensão se acumulava. Estiveram juntos uns sete anos antes e sem dó o tempo gritava suas marcas em cada região sensível dos seus rostos.
Tivera medo de perguntar onde esteve pois conhecia bem a resposta - mulheres, ah! - e calada permaneceu até sentir um leve sussurro penetrar-lhe o ouvido:
- Onde esteve esses anos? - Perguntara-lhe
- Resolvendo os problemas dos outros. - E abaixou a cabeça tão suavemente que qualquer pessoa um pouco mais distraída jamais notaria.
- Que tipo de problemas? - Insistira.
- Todos. - E virando o copo de água simulou um gosto azedo e coçou os olhos como se estivesse prestes a lacrimejar.

(...)

26.1.11

Releituras:

Nos últimos meses não consegui produzir nenhum texto que me fosse satisfatório. Pensei várias vezes que eu não parava mais para compor, para pensar, para viajar. Nem tava dando tanto gás assim nas minhas leituras. Reli 2009 e 2010 quase inteiros e sorri com algumas boas e divertidas memórias, mas encontrei alguns textos que eu nunca terminei, por simplesmente me ter desaparecido a inspiração.
Todos os meus textos tem algo de mim, do que vivi, do que me contaram ou do que idealizei, e todos sempre partem de um denominador comum, apesar de quase todos serem fantásticos e/ou exagerados.

Taí, muitos amigos (por serem amigos) elogiam parte do que faço, mas acho que nunca contei para eles que meu processo é lento, e na maioria das vezes casual. Eu não preciso só SENTIR a vontade de escrever, mas de ter um fio condutor para cada palavra. De ter algo que faça meus olhos brilharem, estalar os dedos e dizer: vou escrever sobre isso!

Dois dias atrás, antes de adormecer criei algumas frases soltas. Bonitas, muito bonitas. E adormeci repetindo-as lentamente esperando tê-las ao acordar...
Sumiram, me deixaram à deriva num bloco de notas.

Às vezes pergunto aos meus pais se eles acham que sou louca, lelé, malucona, uma pirada. A resposta é variável, e ainda assim não me satisfaz. E de tão subjetiva que sou já estou a me estender não sei se para mim ou para você, falando sobre não sei mais o quê.

Ok, releituras. Foco, foco, foco.
Achei! Um dos textinhos que nunca terminei, de 06/07/2010:

Mau caíra da cama e já estavam a miar os filhotes da gata de rua. Levantara com os pensamentos confusos, questionando se não cometera um erro ao deixar o destino interferir no que seria um protótipo de vida despedaçada.
Pôs a água para ferver e já adiantou os baldes para o banheiro.
O frio branco lhe doía os ossos.
Trabalhava como recepcionista no Grand Hostel el Día del Sol, uma construção apoteótica, antiga e clássica naquela Natal arrasada pelas chuvas de verão.

(continua, quiçá, um dia...)




13.1.11

Em partes, vos digo que estou entediada nessas férias: