verdade viva °°°: novembro 2008

12.11.08

Entendia tudo de plantas, bichos e principalmente de medicina popular alternativa. Se não soubesse para que servia o uso de determinada semente, fruta, óleo, inseto ou flor, inventava.

Coloque o alecrim pra ferver e aspire o vapor pra se curar da sinusite.
Tome banho de bosta de boi se quer ter a pele sedosa.
Óleo de tanajura cura bronquite.

Era assim que ele se sustentava e fora assim que ele conquistara toda a comunidade de São Puruí. Comunidade que santo nunca teve, e muito menos se sabia a origem da palavra Puruí. Mas sempre fora dessa forma. Não vamos bolir no que está quieto.

Juca Peba, de batismo Francisco da Silva, 81. Saudável a ponto de pular e se agachar quantas vezes necessitasse. Quem tem saúde tem sorte, costumava falar. E foi por essa sorte que atropelaram-no cinco vezes, saindo-se bem de todas elas, exceto a perda do olfato. O que tinha de inteligente tinha de distraído. Não sentia mais cheiro de comida, de perfume, de lixo e nem de novo.

O conheci por esses dias, quando ele foi deixar um dos seus remédios de ervas lá no Parque onde eu trabalho. Falou assim:
- Ói, mocinha. Avisa a Marquinho que com esse remédio o fígado dele nunca mais vai reclamar de nada. Muito menos os rins e o intestino. Vai ficar bonzinho de novo.

E dali em diante se desembestou a falar da vida. De como era, de onde era e o que fizera pra ser tão conservado. Era cabra da peste, negro de raça e de sol. Com veneno no sangue e um grande mestre que lhe ensinava todas as lições da vida, principalmente a de não falar mal de ninguém. Menos do safado do Queiroz, que quando era moço dava com a língua nos dentes ao patrão, falando o que não devia falar.

O que Juca mais gostava de repetir era conhecido como a frase do seu cartão de visita "De dia na agricultura e de noite na criatura". Era cafajeste com orgulho. Tomava pinga todo dia - Faz bem pro coração. Tinha mulher que só videira tem cacho de uva e esteve com elas até perder as forças contra a ação da gravidade, apesar de gozar de boa disposição e mãos bem articuladas. Fazia tudo com cuidado, pra senhorinha não descobrir. Gostava de sair de órbita, porque aqui na terra mato tem olho e parede tem ouvido.

É...

Ta aí, uma figura que eu não pretendo esquecer.