verdade viva °°°: março 2010

20.3.10

Foi num desses rocks universitários que a conheci.



Em 28 de março de 2006 um grupo de amigos resolvem passar o final de semana na praia. Alguns bebem, alguns fumam, alguns bebem e fumam, alguns nem bebem e nem fumam porém todos jogam. Éramos cinco meninas e dois ou três meninos. Dois casais nitidamente divertem-se mais que os outros, afinal, eram os campeões. Comemoram enfrentando aquela madrugada fria de fim de verão com taças de vinho tinto e conversas aquecedoras na varanda à espera do grande momento.

As duas meninas dos casais éramos eu e a Nani e o grande momento que esperávamos era o eclipse solar total. A lua e o sol marcaram o início de uma amizade que se intensifica mesmo em diferentes fusos.



Como numa apresentação moderninha de slides revivi a primeira babilônia¹ e a comédia de ir dormir na rede. Ou, dependendo da preferência, dormir com a metade do corpo no chão e a outra metade no colchão. Grande parte dos rolés terminaram nesse estilo maroto de viver. Meio pseudo-junkie. O Yolle² e a Rua Chile que assinem embaixo dos nossos rolés de "pinta-reiz". No dia seguinte a gente se espreguiçava já com aquela velha vontade de ir à praia, estender a canga e tomar uma água de coco comendo espetinho de queijo. Ir para casa preparar uma massa ao molho branco ou encher a barriga com pães de queijo. Preguiça de cozinhar? Vamos lá em Pirangi comer pastel de camarão ou tapioca recheada.

No final do ano 2006 convidei a Nani para conhecer o Projeto Tamar em Pipa, no qual eu trabalhava e tinha acesso livre à casa do Santuário Ecológico. Em troca da hospedagem a gente caminhava na praia de madrugada, "tartarugando".

O Santuário também nos rendeu boas recordações, como a filmagem caseira meio Bruxa de Blair meio Lost às avessas. A trilha noturna inesperada ia sendo iluminada através dos flashes de uma câmera prestes a descarregar. Uma apreensão misturada com as delícias que são as aventuras.

A amizade do Alex, o irlandês estagiário; A graça de se passar por americana para enganar os trouxas e bolar de rir; A colheita dos cajus; O peixe frito do Beto; ...
E muitos, muitos amigos reunidos no momento da virada do ano. Fogos. Olhos que brilhavam contemplando o infinito de cores que coloriam o céu escuro. Votos de paz, amor e sorte para todos. Sete ondinhas. Simpatias. Alegria, enfim.
O Ano 2007 começou com o primeiro banho de mar na Praia do Madeiro e a brincadeira do .
No dia 12 de janeiro ela viajou para Sampa, em busca de mais uma aventura e realização profissional. Esteve comigo em pensamento no dia da minha colação de grau, da minha formatura e do meu aniversário de 21 anos. E, no aniversário dela, energias positivas e a vontade de dar um abraço.

No dia 19 de abril ela me liga de São Paulo entre risos:
- Nessa, fui numa vidente. Sabe o que ela falou?
- O quê?
- Que eu tinha uma amiga chamada Vanessa.
Rá!

A Nani voltou em maio e no mês seguinte eu comecei a namorar um garoto. E todo mundo sabe que namoro distancia amizades, mas com a gente foi diferente. Por mais que nossas andanças noturnas tivessem diminuído consideravelmente a gente se contentava em ir pra o Setor II da UFRN, sentar num banquinho e passar tardes conversando sobre o futuro, sobre o passado e principalmente sobre o presente.
Os momentos de seriedade se tornaram absurdos quando estudamos juntas para a prova do mestrado no final do ano e a solidariedade se tornou mais absurda ainda quando reprovamos juntas. Mas eu sempre culpei a hiperatividade do Túlio que não deixava ninguém se concentrar direito.

Fim de ano e o nosso segundo reveillon em Pipa. Foi outra belezura de queima de fogos, champagne e abraços.

Fora idas à praia, almoços, sorvetes na Tropical e passeios turísticos.

O marco principal do primeiro semestre de 2008 foi o carnaval de Olinda-PE e a hospedagem na casa do Fredão. O frenetismo acompanhava-nos nas ladeiras de Olinda junto ao ritmo das apaixonantes troças. Não esquecendo a alegria vivida nos shows de Nação Zumbi, Zeca Baleiro, e Lenine. A competição para se ver livre do paredão do Big Brother Olinda.

O ano continuou de parceria, de Amys Winehouses na casa da Emili, de festas juninas, de chorinhos na Ribeira, de festivais de música, de festas à fantasia no Castelo ou no Galpão. As diversões em companhia da Paula. Ah! A risada da Paula!

Também chegou a rolar alguma distância e alguns mal entendidos (devido outras amizades), mas sempre no resolver das contas rolava aquele velho abraço de guerra, com tapinha nas costas e tudo.

Bem vindo 2009. Bem vivido novamente o carnaval de Olinda. Novas amizades e meu aniversário no pós carnaval. Ela estava comigo.

Enfim, eis que chegou dia 14 de março, o dia da despedida da Nani, 6 dias antes do seu aniversário e dez dias antes da sua partida para a África do Sul rumo ao seu título de mestre. O abraço apertado, lágrimas e orgulho. A saudade já me esbofeteava com toda sua ira.

2009 continuou sereno, tranquilo, bem como chegou 2010. Porém saudoso, queroso de presença, de contato. Mas eu sei que o pensamento sempre poderá conduzir-nos uma à outra.
Daqui a 4 dias faz um ano que a vi pela última vez (abstraindo o skype das nossas vidas) e comecei a escrever tudo isso dias depois da sua partida, faz quase um ano. Puxar parte do histórico das gavetas foi difícil. Terminei hoje, exatamente as dez pras duas de uma sexta-feira, porque já é o dia do aniversário dela.
E ela sabe que ainda deixei de falar de muitos, muitos outros rolés (off road que o diga).

E agora os meus olhos úmidos passeiam curiosos por um mundo líquido azul, por vezes esverdeado, até uma terra desconhecida, onde um céu que me inveja em fotografias tornou-se o teto de um imenso coração.
Feliz aniversário, amiga minha. Sucesso e sorte. Espero te rever em breve, aqui, aí ou em qualquer outro lugar, onde possamos sentar, brindar e comemorar a vida.




Reconduzo-me ao monólogo neste destino horizontal gigante.

¹Festas clássicas anuais for ladies na casa da Nani.
²Ilustre buteco da Ribeira onde só se bebe e só se assiste o dvd do Bob Marley.



15.3.10

Vicissitudes:

Tua respiração vagabunda me transferiu a um mundo iluminado.
O cheiro dos arquivos antigos pairava no ar.
Eu era a inteira metade de um rápido falso rapto de lapsos castos e hipotéticos que me fizeram submergir (feito uma dama) aos lençois aquáticos da tua cama.
Tua respiração iluminada me transferiu a um mundo vagabundo.
O barulho oco dos quadris; o vento que chorava alto feito as palavras que o contador de tragédias um dia gritou; as nuvens densas que refletiam o excesso de felicidade para os olhos de uns e o excesso de melancolia para os olhos de outros; as silhuetas dos concretos verticais que rasgavam o tempo com toda sua magnitude; a poeira das águas azuis misturada aos fios de cabelo; o batom largado no espelho; fevereiro; me deixaram mergulhada numa chuva de ideias autocatalíticas. Ideias que me deixam pronta para ir, tão pronta a somente ir.