Todos os dias espero que alguma coisa espetacular aconteça na minha vida. Ando pregando peças em mim mesma com a intenção de descobrir quais maneiras sou capaz de criar pra me ver livre delas. Minha mente anda infestada de ideias, em cada sulco e fissura cerebral posso vê-las como crianças que se escondem de brincadeira, com o cantinho do olho aparecendo na quina da parede.

Minha fase intensa anda apoiada na dúvida, na cruel paixão que me consome dia a dia, que me faz gata e que me faz rata, na beleza que há em frente à lente e que não consigo expor da maneira sublime como vejo, na felicidade de uma noite dividida pela embriaguez, no lençol que eu sujo com o resto da minha maquiagem que eu já não quero mais porque eu preciso ser realmente inteira e não um quarto.

Minha fase serena anda apoiada num balde de pipoca, edredom e meias cafonas debaixo da calça do pijama a la Bridget Jones, na preguiça de correr em busca de um corpo de traços bem marcados e panturrilhas definidas, na alegria de permanecer no banco do carona enquanto um sorriso motor e radiante esbanja generosidade, na graça em ver o passarinho voar minha cozinha, pousar na fruteira e roubar um teco do mamão gratuitamente, no papo nerde diário sobre as mudanças climáticas e cuidados com o meio ambiente.

Toco minha pele com a leveza de uma poeira invisível e com o prazer de uma água morna, prendo meus cabelos destinada a ir à luta, pinto as unhas daquele rosa retrô que adoro observar quando seguro um copo de vidro e sento sob minha elegância na calçada da minha casa pra namorar um raio de sol enquanto espero o espetacular acontecer.