verdade viva °°°: setembro 2009

29.9.09

Eu lembro que a rua era estreita e que as folhas das castanheiras cobriam o chão. Lá em cima estava o verde-vida-cor, enquanto que adormecidas no chão - rosadas como que por vergonha - o que restava das folhas tombadas pelo amadurecimento.

O passeio de bicicleta até o trapiche. A submersão naquelas águas calmas e mornas. O bolo de chocolate na mochila e o suco de laranja.
No começo: água na boca, expectativa, desejo.

O passeio pela linha do trem, mãos dadas, piegas.
E atrás da curva, o túnel. Eu quis ir e você soltou minha mão. Disse vai.

Atrás de mim seus olhos, na minha frente uma luz. Corri para alcançá-la. Mal podia imaginar que a esperança vinha ao meu encontro disfarçada de locomotiva.

Permaneci vem,
e você nem.







"
Belezas são coisas acesas por dentro

Tristezas são belezas apagadas pelo sofrimento
Lágrimas negras caem, saem, doem. "

- Jorge Mautner

25.9.09

Notinha para Budapeste:

Quando o Chico pulou na tela me fez abrir um sorriso de lua minguante. Pareceu-me oportuno sorrir para um velho conhecido.

23.9.09


Ilustração de: Orlando Pedroso

O Fantasma da pasta preta desceu rapidamente do ônibus. Seguia-o a cerca de cinquenta metros distante, e mesmo apressando o passo para não perdê-lo de vista após a esquina, todo o esforço foi vão. Além da curva, lá estava - o vazio - logo abaixo à janela do apartamento da Louca.

16.9.09

Estava lá na janela como todos os dias.
Nunca parei pra contar, mas acho que é o terceiro andar de um condomínio que não tem elevador, não tem muro, não tem cor e não tem nome. Nem sequer tem registro. Ousaria dizer que também não tem escadas e que todos que nele habita são anjos, ou no mínimo, alados.

Estava lá, com sua linguagem surda e muda, sua pele limpa de pecados, seus cabelos cor de mel escorrendo pelo rosto delicado.

Era a hora mais quente do dia e eu caminhava de volta pra casa.
Olhei para a janela lá no alto e a vi. Com seus olhos perdidos seguia qualquer coisa em movimento pela rua: um carro, o vira-latas e os meus passos.
Fixou em mim toda sua complacência e se despiu. Os raios de sol transformaram seu ventre branco em ouro.

Baixei os olhos apenas por breves segundos, envergonhada. Então, a olhei novamente sem cautela e demonstrei todo o meu respeito.

Ela respondeu sorrindo, e em paz fechou as cortinas.