verdade viva °°°: abril 2007

19.4.07

Isabel acostumou-se tanto a ser sozinha que nos dias de chuva não pensava n'outra coisa além de estar debaixo de suas cobertas. Mantinha-se aquecida do dedo mindinho ao couro cabeludo. Quando adormecia sonhava com peixes coloridos e voadores que brincavam de ciranda no céu.
Um dia, um daqueles peixes, marrom e amarelo (era mais marrom que amarelo) tirou-a para dançar. E dançaram juntos (dançaram mesmo) uma linda canção de amor.

Ao acordar Isabel percebeu que estava apaixonada por um belo peixe.

10.4.07

Em um de seus descansos diários Isabel viajou para um lugar longínquo. Havia uma praia rodeada de coqueiros, jangadas no mar e pescadores a trabalhar. Moças vendiam cocadas e refrigerante. Crianças soltavam pipa e rapazes jogavam bola. Mulheres torravam ao sol, e adolescentes jogavam frescobol. Era o paraíso surreal. Isabel, esforçando-se para nunca mais acordar, ardia em chamas.

4.4.07

Isabel despertou daqueles quatro dias de cansaço profundo e decidiu sempre descansar antes mesmo de recomeçar qualquer esforço que desestruture sua capacidade mental e física. Buscou o telefone e desistiu de viver mais uma vez logo após àquele tom indiferente do outro lado da linha. Estava cansada novamente.

3.4.07

Isabel já estava tão contrariada por estar naquele local que já nem se preocupava tanto com o babadinho da sua calcinha que se mostrava através da roupa apertada. O babadinho branco já estava bastante puído. Nessa hora passava um gordinho usando azul listrado e expressando cansaço e desilusão. Isabel olhava com desgosto um alemão que sentado, tomava cerveja e incansavelmente fitava-a penetrando-a com seus olhos azuis. Nessa hora passava novamente um gordinho usando azul listrado e expressando cansaço e desilusão. O rapaz da vassoura perguntou à Isabel se tudo estava bem. Isabel forçou um sorriso e assentiu com a cabeça. Nessa hora passava mais uma vez um gordinho usando azul listrado e expressando cansaço e desilusão.