Acordo de madrugada para observar ele dormir, parece tão puro, tão meu, tão dengo. Tento encaixar o meu amor em cada poro que observo, que cheiro, que quero. Porque o meu amor não cabe só em mim de tão grande que é.
Ele abre os olhos e sorri, balbucia que a minha perfeição não se encaixa dentro do pacote de defeitos que vieram em seu conjunto e volta a dormir.
Me consola calado quando choro como quando tinha 14 anos e via meu primeiro pedaço de amor no chão.
Me manda embora e na saída me agarra com todas as bocas que me fazem tremer, que não querem me deixar ir enquanto gritam "saia daqui, por favor!".
Não quer tentar me deixar ficar e ser completo, simplesmente por não acreditar que pode ser completo.
Não quer manter o gosto bom que a gente experimenta juntos, mas quer mesmo assim.
Não nota que não existe nenhum esforço pra ser bom, porque o que temos já nasceu ótimo.
Me quer ternura, aconchego e malícia. Um cochicho aqui, um agarrado ali, um almoço chinês, um sorvete de caramelo. E, invariavelmente, no final de tudo, me liberta da minha gaiola de ilusões e espera que eu voe, só que eu não aprendi a voar pela metade.
Me agarro aos seus desejos (tão carnais) tentando transferir por difusão tudo de bom que sinto e dessa forma nos descubro pêlos e pele. E ele se agarra, então, aos meus desejos e transfere voraz toda paixão que não morreu dentro do seu ego inflado pela minha admiração.
É a minha boca que eu sei. É aquela que fala demais, besteiras. Que sorri demais, tolices. Que assopra calmamente seu machucado. Que morde macio o seu ombro. Que canta sem compasso, desafinada. Que seduz sem pena. Que treme com seus beijos e que cala ao tentar dizer que ama.
Desde muito, muito tempo antes de hoje.
1 Comments:
Lindo isso. Muito, muito, muito bom! Parabéns.
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