verdade viva °°°: novembro 2010

12.11.10

As meninas que queriam paz beijaram-se no pátio do colégio, mas logo tiveram pressa de terminar porque sabiam que aquilo era algo proibido. Naquele minuto elas cansaram de segredos, cansaram de ameaças, cansaram das vendas sugando suas faces e escondendo o amor.
Não podemos aprender a enxergar com os olhos dos outros, assim como não podemos aprender a fazer amor. Esse tipo de processo de aprendizagem é ilimitado, portanto, contínuo. Mas um dia existirão professores capazes de ensinar exatamente o que não precisamos que ensinem.

A falta de lógica e de inconsciência é o que me faz considerar uma casa antiga, fixada num chão de terra vermelha e ressecada pelo tempo, com paredes descascadas e um cão pulguento e sem raça por perto, como um cenário de arte, como um cenário bucólico, melancólico e romântico.
E eu garanto que, se no meu cenário criado encaixassem as duas meninas se beijando, delas eu só aproveitaria o balão de ar em forma de coração que flutuava febril acima das suas cabeças e o penduraria no carcomido armador de rede.
Quanto às meninas: seriam a parte dispensável da moagem da cana.
Não por elas não serem admiráveis, mas por elas precisarem do tempo delas, não do meu.

Na modéstia dos meus dias, na ganância do meu ego, no estupor da minha estima, eu represento a dúvida, a dureza, o poder, a energia, a frieza e sobretudo a dor.
Porque tudo vai passando tão depressa por mim e é tão normal que eu deixe passar e que eu deixe que se vá. Lá longe. Vê?
É tão normal que eu deixe tudo envelhecer porque simplesmente me contaram que 'tem-se que deixar envelhecer' e eu acreditei.
É tão normal participar do samba do crioulo doido e dançar como uma cobra na areia quente do deserto, fazer alguém rir ou fingir graça enquanto uma enxaqueca me deixa mais séria do que já sou.
Na minha loucura pseudo-junkie costumo diagnosticar normalidade em todo e qualquer ato, mas acabo sentindo culpa por achar que um dia julguei simples o amar.
Ora! Nem a maior das escuridões poderia engolir a luz de uma vela.






"É tolice eu sei

Você não sente os meus passos
Mas eu imagino"
(Pato Fu - Tolices)