verdade viva °°°: janeiro 2009

19.1.09

de sonho em sonho...

O dia se mostrou estranho e acordou as nove horas da manhã completamente preguiçoso. Pouco imaginou que não haveria trânsito nas ruas e que os outros carros abririam passagem para que ele pudesse seguir...

O dia caminhou estranho e assustou-se ao notar que uma anã que andava pelo passeio quase não fora percebida pelo carro que dava ré ao sair de um restaurante de comida rápida.

O dia anunciou estranhamente que o céu teria nuvens espaçadas a formar uma fina película cinza e que daria, então, a impressão de poluição a todos os urubus que contrastavam suas penas negras num vôo fluido, líquido e indomável que ultrapassava os limites carbonáticos rumo ao azul celeste.

O dia entardeceu estranhamente apaixonado pela trilha sonora marinha com seus cri-cris planctônicos e espumas de sal que lhe feria alegremente os olhos.

O dia cambaleou estranhamente tonto após horas arquitetando um forte castelo de areia que venceria a força onipotente do vento.

O dia anoiteceu atento aos rótulos de amendoins de elefantes que, empilhados pareciam mais um mosaico derretido, bonito e unicolor de um sonho atrapalhado, enquanto jacarés perseguiam a pequena que fora culpada por cometer o despretencioso crime de não vestir os sapatos ao ir à escola.

O dia não raiou no dia seguinte por motivo exclusivo de vingança. Não vestiria seus sapatos enquanto ainda quisesse ser criança.

8.1.09

... em primeira pessoa:


Deslizava o volante sobre as minhas mãos ágeis enquanto o vento forte, gelado e macio vinha de encontro ao meu rosto salgado de mar. Se fazia um cenário meio urbano, meio litoral, aquela vista acostumada de coqueiros entre postes e vice-versa.

Das outras árvores e do mesmo caminho, as folhas que teimavam em cair, mesmo contra toda a resistência do vento, chamaram minha atenção. Não porque eram amarelinhas cor de sol, não! Mas porque elas se mostravam exímias dançarinas de balé. Um espetáculo divertido aos meus olhos.

O desejo lancinante da mudança exalava dos meus poros.
Sinal aberto, pulso forte e determinado na alta velocidade em que se iniciou o novo ano.

E por esse início logo descobri um carinho presente em mãos que me tocavam com algum notável cuidado e uma voz companheira que comigo cantava em frente a uma vitrine qualquer, em um passeio qualquer, uma canção qualquer, em busca da lua.
Havia uma platéia estranha que sorria inebriada com a felicidade alheia. E nem me passou na cabeça a possibilidade de ter estado ao inverso o mundo.

A insegurança se esvaiu com um beijo transparente e a certeza de que nada mais poderia fazer a minha cabeça girar a não ser aquele cheiro de ondas.

Sete mil e duzentos minutos a cento e vinte quilômetros por hora com um sorriso teimoso que insistia em ficar.