verdade viva °°°

2.9.08

Hoje, no meio daquela trilha, percebendo aquelas diferentes tonalidades de verde das folhas das inúmeras árvores, lembrei da minha infância. Nela me perdia subindo nos galhos mais altos para roubar os jambos dos vizinhos, as mangas, goiabas e isso sem falar nos doces de jaca que os meus irmãos, eficientes jovens cozinheiros, criavam. Eles me faziam acreditar que eu era a garotinha mais forte do mundo e me colocavam, inocentemente, pra carregar duas ou três jacas naqueles braços magros dos oito anos de idade de uma só vez. Eu chegava em casa exausta, suada, grudenta e exalando aquele perfume de fruta único no mundo. E porque achavam pouco, ainda me obrigavam a comer daquele doce até gostar.

Mas na minha infância atual tenho lembrado quase todos os dias da história da minha tia-avó, que eu nem cheguei sequer a ver algum retrato e me certificar de que ela tinha mesmo olhos azuis, mas pelas gerações a que segui me foram muito bem chegadas informações que seguramente me diziam pra eu ter cuidado para não me exceder com os doces de jaca. A minha tia-avó comeu tanto deles que dormiu por oito anos, aprisionada pelos seus sonhos, bem no auge da sua juventude. Quando acordou, a única lembrança lúcida dos seus sonhos era o barulho que o roçado dos galhos da jaqueira fazia pela janela do seu quarto.

Há uns onze anos não como jaca, só piso em cima.

Não como por não gostar ou por achar que dormir demais seja algum fator da herança genética, mas por medo mesmo de acordar muitos anos depois e depois de muito sonhar só conseguir lembrar de um mísero roça-roça de galhos.

5 Comments:

At 3.9.08, Blogger Moreno said...

Isso é o que ela DIZ que lembra.

E quem garante q mesmo em meio às suas atividades cotidianas (da tia-avó) não lhe ocorrem umas lembranças, que ela pode jurar serem reais, mas que fizeram parte apenas do sonho? Como ela vai saber? São oito anos no mundo de Matrix! Se pá ela fez um acordo com as máquinas, pra voltar pra terra sem se lembrar de nada.Traidora do NEO movimento.

Tá, parei o papo nerd. Kill me, i work at IBM.

Por outro lado, se por oito anos ela não viveu, por oito anos também não sofreu. (Kill me, i´m Budhist.)

E ela acordou como, com algum beijo encantado? imagina a cena, depois de 8 anos dormindo, ela acorda: "Pôooo, mãe, tô com um buraco no estômago, que que tem pra comer aí? Puta fome! Mãe?...Mas a farra foi grande ontem hein, a senhora tá com uma cara que parece anos mais velha! É o que eu sempre digo pra senhora, tem que aproveitar melhor o sono! Agora fica aí, com esse olho arregalado... Parece que viu um fantasma. Pôoo, puta larica!- sobrou alguma coisa daquele doce de jaca ainda aí?"

:*

Tchutchu.

 
At 4.9.08, Anonymous Anônimo said...

eu costumava subir em árvores qdo criança, até que cai. fiquei 7 dias andando curvada como uma velhinha, foi um quedão mesmo.

 
At 4.9.08, Anonymous Anônimo said...

"(Kill me, i´m Budhist.)"

¬¬

 
At 4.9.08, Anonymous Anônimo said...

sua avó teve até sorte de durmir 8 anos direto.
eu não durmo nem mais 8h por dia...
=/

 
At 7.9.08, Blogger Unknown said...

Às vezes, só lembramos do que precisamos lembrar =p

 

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