verdade viva °°°

23.7.08

Ela se encontra, numa dessas noites de boemia, embaixo de uma lona azul e amarela, que se eu não a conhecesse tão bem, afirmaria estar ela embaixo de um circo. Pior. Se houvesse pó de serra na cena, diria que ela estaria em um picadeiro e aquele pedaço de carvalho envelhecido em forma de lança seria talvez para assustar os leões.

Graças ao São Lázaro (aprendi quando criança a fazer figa e falar três vezes baixinho "São Lázaro prum lado e cachorro pra outro" sempre que me deparava com caninos raivosos - e não foram poucas vezes) que segundo a lenda (digo lenda porque nunca li em nenhum lugar - não que as lendas não sejam escritas) é o protetor dos animais, e que por ele, o circo deixou de ter tantos animais selvagens sem permissão e cuidados devidos.

Só um momento pra eu ir pesquisar quem é esse tal de São Lázaro...

Vanessa, não escreva tão subjetivamente! Pronuncia-se o alterego.

O cabeludo cutuca (o que provoca ódio imediato da garota) e fala com aquele hálito de tomates verdes, e fritos:
- Adoro mulheres que têm sardas.
Como se achasse pouco, continua:
- Adoro mulheres que usam aparelho nos dentes.

A garota sorri maledicente e mostra os dentes amarelados e nus.
O cabeludo dá um passo para trás, olha profundamente os sapatos de solas gastas e questiona:
- Sua metade tá pra jogo?

A garota segurando as fichas de cerveja na mão, aperta-as até sufocá-las, contrai o cantinho esquerdo do lábio fingindo esboçar um sorriso (a mamãe sempre ensinou-a de acordo com as leis da educação; leis essas jamais vistas em estatuto, apenas seguidas culturalmente) e fala pausadamente:
- N ã o .

O cabeludo treme nas bases, coça a cabeça, limpa as unhas cheias de caspa, cheira o dedo, falta desabotoar o botão da camisa cem porcento algodão, engole o vapor de saliva concentrado em seu palato duro, chuta um anel de lata de refrigerante, olha lá no alto da lona os urubus simbolizando uma possível chuva chegando (no norte é assim), morde o lábio inferior, vira de costas, e, como por mágica, desaparece de vista instantaneamente.

A garota senta na borda do que seria picadeiro (se lá houvesse pó de serra e se embaixo da lona de um circo ela estivesse) e lembra-se que já pode afrouxar a mão; pega de imediato uma cerveja (depois de entregar uma das fichas sobreviventes) com o atendente do bar mais próximo, tssssss e dá o primeiro gole. Sempre acha que o primeiro gole tem gosto de coco.

Estática permanece, até que um careca olha-a, aproxima-se e lhe conta:
- Adoro mulheres que têm sardas...











Nota: São Lázaro é defensor contra lepra, úlceras, feridas, dermatoses e mais agonias da pele humana. São Lázaro tem um cão, como muitos santos de especial predileção popular os têm.

(Inspira-Expira!)

7 Comments:

At 23.7.08, Anonymous Anônimo said...

eu nunca acredito qdo vc diz q o texto está ruim.
e eu faço muito bem em não acreditar!!

chuchu, vc é do baralho mesmo!
=P

 
At 24.7.08, Anonymous Anônimo said...

Sem muita coesão, beleza de muitas imagens...

É como se desse pra ler o seu pensamento.

Sardas são mesmo ótimas.Mas aparelho nos dentes me dá uma agonia.

O careca pode ser careca, mas pelo menos não cutuca.

A palavra "surreal" foi desgastada, mas criou verdadeiras obras primas.

e...

:****

 
At 24.7.08, Blogger Gabriela Barbalho said...

o careca também não tem caspa... ou não.

 
At 24.7.08, Anonymous Anônimo said...

ótimo!

 
At 27.7.08, Blogger AdrianaSá said...

o loco que complexo!

 
At 29.8.08, Anonymous Anônimo said...

foi assim q paulo chegou a academia!
mas nao eh uma merda termos paulo na academia?

 
At 4.9.08, Anonymous Anônimo said...

Eu adoro o jeito que ce escreve...simplesmente d++!!Lakera!!Sempre na doidera sublinar de palavras concisas....ai ai!! Eta saudade!!

 

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