verdade viva °°°

24.10.06

A Nélia sempre vivera na pacata região de Calos Duros, no oeste de Catamarã, divisa com a região da Ponta do Colosso. A comunidade era hostil e de poucas palavras e Nélia construíra com as outras crianças uma infância tecida por brincadeiras de meninos e namoricos bissexuais aos fundos dos quintais.

Nélia era uma garota prodígia, contava estrelas e batizava cada uma delas todas as noites logo após a última sesta.
Quando adolescente tinha uma libido que ofuscava e confundia os rapazes do lugarejo, encantados pelas suas descomunais performances ao dançar e cantar para eles. Mas ela não se dava conta dos estragos que fazia com inúmeros corações apaixonados, e no teatro não só os atores que contracenavam com ela apaixonavam-se, mas a platéia toda, homens e mulheres de todas as idades encantavam-se ao vê-la interpretar.

Mulher formosa, estatura mediana, olhos castanhos claros e cílios sempre reforçados com rímel. Cabelos ondulados e fúlvidos que cheiravam almíscar, caídos até a cintura e sempre enfeitados com laços de fitas coloridas. Filha de pais ricos e esbanjadores de luxo, teve aulas de etiqueta e comportamento durante anos e era invejada por todas as saias de Calos Duros e arredores que sabiam da sua existência. Ao contrário do espivitismo de seus pais, era calma e serena, educadíssima e não falava palavrões. Quando espetava o dedo em algum espinho ou tropeçava no pé da cama sempre se policiava e se sentia mal quando involuntariamente pensava em gritar imundícies aos quatro ventos.

O sucesso no palco do teatro Calodurensse transformara-a em estrela e era estranho ela nunca ter se apaixonado ou ao menos se interessado por nenhum rapaz até então. Recebia caixas e caixotes empanturrados de declarações, cartas e rosas vermelhas, pedidos de casamento, jóias caras e sapatos irresistíveis. Adorava os sapatos e o restante guardava com carinho para mostrar aos filhos se houvesse de tê-los um dia.
Os sapatos serviam para as suas diferentes personagens, cujos pés trinta e quatro chamavam mais atenção que o busto esplêndido e fumegante.

Certa vez, ao final de mais um espetáculo foi ajeitar-se no camarim para regressar à mansão dos Catarinos quando por debaixo da porta um bilhete lhe foi remetido...

(continua)

7 Comments:

At 24.10.06, Blogger kursch said...

Talento. Você tem.

 
At 24.10.06, Anonymous Anônimo said...

Amiga... vc é MUITO talentosa!!! É meu orgulho... amo tanto!!

ah! e essa Nélia eh pau hein? aheuheauhea


te amo!

 
At 24.10.06, Anonymous Anônimo said...

quero ler mais po!

 
At 24.10.06, Anonymous Anônimo said...

ráa, quero o resto da história..
putz, tu escreve mto pow!
parabéns!

 
At 24.10.06, Anonymous Anônimo said...

eu odiei o "continua"
quero saber o resto!
muito bom mesmo...meu orgulho!

 
At 24.10.06, Blogger Filha da Terra said...

Invejo-te minha cara!
A inspiração chegou pelas bandas daqui, mas comparada com a sua, a minha não é nada!
Texto fabuloso!
Continue logo tá?
AMO!

 
At 24.10.06, Anonymous Anônimo said...

Não me lembrava desse teu lado não viu?? Porra... Me abestalhei... Escreve muito viu minina!!! bjo

 

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