verdade viva °°°

16.8.06

Entrei no ônibus como todos os dias, já conhecia todas aquelas expressões, rostos mal lavados, ainda amassados de noites bem dormidas, rostos pintados e olhares perdidos na imensidão de um novo dia. Eu era apenas mais uma de tantas.

Ônibus lotado, aquele empurra-empurra dos infernos (eu sei porque já estive em um, mas fica pra uma outra hora).

Depois daquela esfregação com outros corpos consegui, lá atrás, um espacinho até cômodo pra me segurar. Uma boa alma me ajudou com os livros e assim fiquei mais tranquila e aliviada. Conto quantas vezes consegui sentar no ônibus das sete da manhã, acho que pelo fato da minha parada ser a última do meu bairro.

A claridade me irrita, principalmente depois de madrugadas afogadas na escuridão. Óculos escuros sempre presentes, de tão escuros ninguém percebe em que direção estou a olhar ou se estou eu a dormir em pé.
Foi o meu querido óculos que me apresentou a Ele.
Percebi um olhar de meia idade tragando todo o meu corpo enquanto balançava a cada quebra-mola.

E nem pra disfarçar! Atrevido!

Ficou olhando durante todo o percurso, de cima a baixo e de um lado a outro. Eu já estava incomodada, mas ele não sabia que através do meu óculos eu estava a observá-lo também.

Ele notou minhas pernas definidas por debaixo daquela calça baixa, fixou-se no meu busto que me deu até medo de que algo caísse dali.

Sentia que ele respirava meu perfume sempre que, propositadamente, jogava meus cabelos de lado.

Eu sou tão nova, e ele tão mais ou menos!
De repente, antes o que era desprezo foi-se tornando paixão, e eu passei a ficar chateada quando o via olhando pela janela distraído.
Agora eu queria os seus olhares! Um olhar de quarenta e poucos, olhos marrons penetrantes, um grisalho charme na cabeça. Vestia jeans e camisa de botão verde.

Minha parada estava se aproximando cada vez mais, eu já estava impaciente, não o queria perder naquele momento, não queria aprender o significado da expressão "nunca mais".
Ele tocou meu braço:

- Quer sentar? (Que voz!)
- Não, obrigada, já vou descer! (Será que fiz bem?)
- A gente poderia se encontrar? (Ai meu Deus, ele quer marcar um encontro! E agora? Minha parada chegou!)

Como por impulso, abri minha carteira e entreguei-lhe um pedaço de papel dobrado, nesse momento o vi sorrir, todo lindo e retribuí ao sorriso. Saltei, e na calçada, olhei a última vez para o interior do ônibus já semi-vazio, enxerguei uma expressão rude em sua face ao ler meu cartão:

Rubens Alfredo
9499-3652

Atendo em domicílio.



* Ofereço esse texto à amiga Jana, que batizou o personagem.

5 Comments:

At 16.8.06, Blogger Ju. said...

hummm, ri aki no final, muito legal o texto!!!

 
At 17.8.06, Blogger Filha da Terra said...

Ai ai Nessa!
Cada dia que passa você me supreende mais!
Simplesmente sensacional!
Me empresta um pouquinho de seu dom vá lá?
Espero um dia ainda poder fazer algo parecido e à altura!
Obrigado pelas gargalhadas!
TE AMO!

 
At 28.9.06, Anonymous Anônimo said...

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At 28.9.06, Anonymous Anônimo said...

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At 28.9.06, Anonymous Anônimo said...

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