verdade viva °°°

21.6.09

O barulho dentro de casa era pouco, quase nada. Meus pais espreguiçavam-se à mesa para o início do desjejum. Com felicidade e otimismo acordei cedo. Felicidade derivada de uma foto-mensagem do meu Teteco soltando pipa. Otimismo derivado da esperança de tirar uma nota razoável na prova de Embriologia amanhã.

E é sobre o Teteco que eu resolvi escrever no blog, depois de matutar durante dois dias e meio se eu deveria continuar ou não a escrever experiências pessoais com os ilustres dos meus dias.

O Teteco vai completar 7 mês que vem. O Teteco é o meu sobrinho e responsável pelos diálogos mais bonitos do mundo. Numa atitude descontrolada de maus e profundos sentimentos, em fevereiro deste ano, lançou na tv de 42 polegadas da sua casa um controle de playstation II rachando a tela plana de ponta a ponta.
Castigo: sem vídeo game até o dia do aniversário.
Milhões de pedidos de desculpas diários e manifestos de arrependimento não dobraram o coração dos responsáveis pela sua educação, porém idéias geniais surgiram na caixola dos genitores, como por exemplo, colocar a criança para exercitar o corpo: karatê.

Por esses dias eu o pegava na varanda da minha casa entre kihons, katas e kumites. Estava treinando para o teste de mudança de faixa.
No ginásio da escola mais de cem crianças em fila esperavam seus nomes serem chamados para mostrar ao público o que haviam aprendido durante o semestre. Matheus foi o último a lutar da sua classe e o único a ganhar a faixa amarela. Estava tão contente, mas tão contente que o visualizei iluminado com um sorriso de lua minguante e olhos de estrela em sua face. Queria ter estado lá, de frente. Não apenas ter ouvido ele me contar, mas a minha pneumonia tem me impedido de muitas coisas. Ontem ele me convidou pra ir ao cinema "Eu pago, tia Nessa!" e um nozinho no meu peito se criou.

A foto-mensagem que recebi dele no meu celular mostrava-o soltando pipa num terreno em frente ao prédio em que mora. Ficar sem vídeo-game faz dele uma criança livre, falante e diferente dos amigos. E faz do meu irmão um pai mais presente e preocupado com as atividades de lazer.
Eu fiquei muito feliz quando soube da idéia de ensiná-lo a soltar pipa. Acho que toda criança tem que passar por isso enquanto ainda existe espaço vazio e horizontal na cidade.
Imagino como deve ter ficado meu irmão, relembrando sua infância em Belém nas disputas de pipa com os amigos e imagino como deve ter ficado minha mãe, imaginando o uso do cerol e os acidentes provocados. Soltar pipa sozinho inutiliza o cerol, me imaginei despreocupando-a. Hoje em dia é difícil perceber o céu colorido de pipas com suas rabiolas e o chão colorido de meninos correndo descalços domando emocionados os brinquedos de papel.

Matheus e sua pipa


Espero que quando o Teteco voltar a jogar vídeo-game ele não veja tanta graça e continue a me chamar para ir ao cinema, ou ir mergulhar no mar com os equipamentos de profissional mirim que ele tem e gosta de exibir. Ou que continue a me convidar para levá-lo ao circo e tê-lo dormindo em meu colo meio ao espetáculo. Ou continue a me chamar para jogar quebra-cabeça ou ping-pong na varanda. E continue soltando pipa e quebrando os carrinhos Hot Wheels.

Espero que o meu Teteco esteja tendo uma infância feliz, como eu tive. Como o pai dele teve. E como deve ser. Eu só queria registrar de alguma forma o meu orgulho.
Não sei porquê, mas hoje eu acordei com tanta vontade de ser tia. Que droga de pneumonia.

3 Comments:

At 21.6.09, Blogger Bruno Costa said...

Vai passar Nessa... e Teteco vai enjoar de vídeo game... não deixe de escrever... e perdoe minha ausência... Abraço forte!

 
At 23.6.09, Blogger Marcel Matias said...

que lindo, amiga.

 
At 25.6.09, Anonymous Anônimo said...

sobrinhos herdam o gênio das tias. ouvi dizer...

=)



=**

 

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