Sempre preferiu as flores amarelas.
Enquanto estudava cores descobriu que o amarelo era a cor do ouro. Não almejava ter um império ou mesmo ser rica, apenas acreditava que se gostasse o suficiente daquela cor teria a sorte a caminhar ao seu lado.
Coitada, aos 7 anos e depois de 1 ano da incrível descoberta, sua mãe faleceu.
Já tinha toda a sagacidade de compreender que sua memória se amarelaria no tempo assim como a sua sorte.
Desenhava o perfil da mãe nas paredes, nos cadernos e na lembrança, por medo de perder o que já começava a se tornar embaçado. Imaginava também as brincadeiras que havia aprendido enquanto cabia no melhor colo do mundo.
Quando o pai obrigava-a a dormir, enrolava-se aos lençóis cantando baixinho (enquanto a gotinha de sal brotava daqueles doces olhos de jabuticaba):
Ciranda, cirandinha, vamos todos cirandar...
Costumava se pentear frente ao espelho onde - na penteadeira - abria a caixinha de música da bailarina cor de rosa feita de sabão para ouvir repetidamente as cordas daquela melodia eterna.
Quando saía à rua, despia as árvores de seus botões de flor e lançava-os ao ar em oferenda. Não poderia imaginar que sua mãe haveria de lhe psicografar uma carta.
Pré-adolescente, criada pelo pai e irmãos, fez da sua bolha o mundo. Afundava nas águas do seu colchão dando preferência à literatura dos adolescentes aos CDs de rock pauleira que os irmãos forçavam-na a ouvir.
A chegada da menarca preocupou-a e entristeceu-a. Se via forçada a telefonar às poucas colegas para esclarecer as dúvidas que os livros de ciências não esclareciam "Mancha de sangue sai na água?".
O primeiro amor preocupou-a e entristeceu-a. Tinha que ligar às ainda poucas colegas para pedir conselhos que as marie-claires não esclareciam "Como é que posso fugir da minha natureza? Por que devo ir contra o que sinto?". Sentia uma carência afetiva enorme. Havia um espaço não preenchido de carinho, zelo, conselhos e cuidados.
Rotulou-se A fracassada ao término do primeiro namoro e após muita dor de cotovelo criou coragem para ser mais auto-suficiente.
Consciente da sua inteligência, capacidade e afinidade tornou-se jornalista. Lia, relia, assistia filmes e documentários pertinentes, escrevia e redigia pelo menos duas vezes por semana. O pouco tempo livre era dedicado aos doces.
Estava trabalhando numa cooperativa quando uma colega a convidou para conhecer um centro espírita. Já conhecia alguns autores mais modernês como a Zíbia e tinha alguma curiosidade sobre o assunto. Mais profissional que espiritual. Foi lá.
[Por essa hora, a protagonista ainda não identificada esqueceu-se de me caracterizar o ambiente, do qual não tive nenhuma descrição além das paredes azuis anil.
Ao começar a escrever esse texto percebi que haveria muitos furos. Algumas passagens mal contadas ou não contadas... E eu, no meu exagero torto, engrandeci o relato com pitadas pessoais de imaginação e respeito.]
Houve então a surpresa.
Enquanto nossa protagonista dirigia-se a porta de saída após o tour categórico pelo ambiente e a tomada do passe naquele salão a meia-luz, ouviu um grito vindo do interior "Priscilaaaa!".
Ela tornou o pescoço e se deparou com a colega da cooperativa correndo em sua direção, suada, descabelada e desesperada acudindo um papel e gritando sem fôlego "É... uma... carta... da... sua... mãe. Uma... carta! É..."
Priscila tomou-lhe o documento das mãos, sentou-se na calçada da rua um pouco assustada e leu por cerca de duas horas consecutivas a seguinte mensagem "Recebi todas as flores que você me ofereceu!".
Não conseguia absorver o quão era possível estar lendo aquela mensagem. Durante toda sua vida nunca tinha confessado nem em sonho o costume de atirar flores ao ar enquanto oferecia-as à mãe.
Chorando emocionada descobriu, então, que nunca estivera sozinha e como um estalo de chofre descobriu que em cada grande decisão e momento da sua vida não existia apenas um coração a mostrar-lhe o caminho, mas sim dois. E dos grandes.
Enquanto estudava cores descobriu que o amarelo era a cor do ouro. Não almejava ter um império ou mesmo ser rica, apenas acreditava que se gostasse o suficiente daquela cor teria a sorte a caminhar ao seu lado.
Coitada, aos 7 anos e depois de 1 ano da incrível descoberta, sua mãe faleceu.
Já tinha toda a sagacidade de compreender que sua memória se amarelaria no tempo assim como a sua sorte.
Desenhava o perfil da mãe nas paredes, nos cadernos e na lembrança, por medo de perder o que já começava a se tornar embaçado. Imaginava também as brincadeiras que havia aprendido enquanto cabia no melhor colo do mundo.
Quando o pai obrigava-a a dormir, enrolava-se aos lençóis cantando baixinho (enquanto a gotinha de sal brotava daqueles doces olhos de jabuticaba):
Ciranda, cirandinha, vamos todos cirandar...
Costumava se pentear frente ao espelho onde - na penteadeira - abria a caixinha de música da bailarina cor de rosa feita de sabão para ouvir repetidamente as cordas daquela melodia eterna.
Quando saía à rua, despia as árvores de seus botões de flor e lançava-os ao ar em oferenda. Não poderia imaginar que sua mãe haveria de lhe psicografar uma carta.
Pré-adolescente, criada pelo pai e irmãos, fez da sua bolha o mundo. Afundava nas águas do seu colchão dando preferência à literatura dos adolescentes aos CDs de rock pauleira que os irmãos forçavam-na a ouvir.
A chegada da menarca preocupou-a e entristeceu-a. Se via forçada a telefonar às poucas colegas para esclarecer as dúvidas que os livros de ciências não esclareciam "Mancha de sangue sai na água?".
O primeiro amor preocupou-a e entristeceu-a. Tinha que ligar às ainda poucas colegas para pedir conselhos que as marie-claires não esclareciam "Como é que posso fugir da minha natureza? Por que devo ir contra o que sinto?". Sentia uma carência afetiva enorme. Havia um espaço não preenchido de carinho, zelo, conselhos e cuidados.
Rotulou-se A fracassada ao término do primeiro namoro e após muita dor de cotovelo criou coragem para ser mais auto-suficiente.
Consciente da sua inteligência, capacidade e afinidade tornou-se jornalista. Lia, relia, assistia filmes e documentários pertinentes, escrevia e redigia pelo menos duas vezes por semana. O pouco tempo livre era dedicado aos doces.
Estava trabalhando numa cooperativa quando uma colega a convidou para conhecer um centro espírita. Já conhecia alguns autores mais modernês como a Zíbia e tinha alguma curiosidade sobre o assunto. Mais profissional que espiritual. Foi lá.
[Por essa hora, a protagonista ainda não identificada esqueceu-se de me caracterizar o ambiente, do qual não tive nenhuma descrição além das paredes azuis anil.
Ao começar a escrever esse texto percebi que haveria muitos furos. Algumas passagens mal contadas ou não contadas... E eu, no meu exagero torto, engrandeci o relato com pitadas pessoais de imaginação e respeito.]
Houve então a surpresa.
Enquanto nossa protagonista dirigia-se a porta de saída após o tour categórico pelo ambiente e a tomada do passe naquele salão a meia-luz, ouviu um grito vindo do interior "Priscilaaaa!".
Ela tornou o pescoço e se deparou com a colega da cooperativa correndo em sua direção, suada, descabelada e desesperada acudindo um papel e gritando sem fôlego "É... uma... carta... da... sua... mãe. Uma... carta! É..."
Priscila tomou-lhe o documento das mãos, sentou-se na calçada da rua um pouco assustada e leu por cerca de duas horas consecutivas a seguinte mensagem "Recebi todas as flores que você me ofereceu!".
Não conseguia absorver o quão era possível estar lendo aquela mensagem. Durante toda sua vida nunca tinha confessado nem em sonho o costume de atirar flores ao ar enquanto oferecia-as à mãe.
Chorando emocionada descobriu, então, que nunca estivera sozinha e como um estalo de chofre descobriu que em cada grande decisão e momento da sua vida não existia apenas um coração a mostrar-lhe o caminho, mas sim dois. E dos grandes.
7 Comments:
Como sempre extremamente criativa...
: **
Como sempre bastante criativa... abraço!
=~
q lindo!
essa é uma daquelas que "arrupia"!
=*
*-*... muito bom!
eu ainda vejo a menina de 7 anos...
Tô mudo. (som de apausos)
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