verdade viva °°°

28.3.07

Agora, torta na minha embriaguês torta, sento-me ao lado de fora, maltrapilha abaixo da janela e fico ouvindo o som das gotas que caem barulhentas, pingam no chão, na minha cabeça, na minha face, na plantinha encolhida de frio. Essa chuva de todos os dias, de todos os anos, que não quer se conter. Lágrimas que escorrem involuntariamente unindo-se à chuva e limpando meu rosto outrora recoberto por pó de arroz. Eu, trocando calor (o corpo quente e o chão tão frio) , transpiro de medo e ansiedade. Jogo pelo buraquinho da janela uma pedrinha que sorrateiramente alcança o espelho e destrói a vida daquele objeto sugador de almas alheias. Posso ver por aquele mesmo buraquinho os estilhaços e minhas mil faces, e em cada face os sete anos de azar. Por sorte um pedacinho do vidro caiu junto da parede, e o buraquinho da janela tornou-se grande a ponto de conseguir alcançar aquele caco com meu indicador direito. Trago-o para mim. Por hora enxergo apenas um dos olhos, piscando cheio d'água e rindo de si mesmo. Enxergo também meu lábio arroxeado de frio, que molhado (não sei se pela chuva, pela lágrima ou pela saliva) chora de si mesmo. E é tão estranho olhar meus pedaços partidos... Enquanto a chuva cai, tento imaginar uma maneira de aprisionar novamente o meu medo. Eu tento buscar uma solução para a derrota sobre mim mesma de todos os dias. Busco à duras penas uma saída, um esconderijo onde eu possa me manter protegida daquela chuva. Quero só um refúgio, alguém que segure minhas mãos e pacientemente me ajude a colar minha alma ainda quebrada em pequenos cacos. E que esse alguém não se importe com as cicatrizes que certamente ficarão expostas na minha nova imagem reconstruída. Quero alguém para manter a rosa cor dos meus lábios, e que retire sorrisos deles. Que me olhe nos olhos e encha-os daquela água alegre que todos nós choramos algumas vezes, rindo. Que me traga o sol e que pule as sete ondas em qualquer ocasião. Que me conte histórias e que faça histórias comigo, histórias para serem contadas em qualquer estação, para qualquer ser: animado, inanimado ou desanimado. Mas se não houver de ser assim, poderia ao menos alguém me emprestar um guarda-chuva, por gentileza?

2 Comments:

At 29.3.07, Blogger kursch said...

Você está cada vez mais parecida com bia, sempre terminando os posts com uma pergunta. "Pufavô, né?"

E como leitor deste blog eu peço a volta da história da Nélia.

"De antemão peço desculpas aos amigos que acompanham as postagens deste blog, a outros leitores também, mas venho comunicar que não mais prosseguirei com a história da Nélia VIRTUALMENTE."

Ou então se encontre comigo para contar PESSOALMENTE.

Obrigado.

Beijos fraternos.

 
At 1.4.07, Blogger Filha da Terra said...

Ah, quanto querer minha amiga...
E o que seria de nós, seres tão imperfeitos, se a busca por algo não existisse?
Amo-te mais ainda por isso!
:***

Pê-ésse: Essa Bia daí de cima sou eu?

 

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