confissões
de repente eis que eu descubro o medo
aquele mesmo, que aprisionei por querer
dentro do pedacinho de cristal
eu sabia que aquela pedrinha todos os dias eu teria que proteger
para não sofrer nenhum mal
mas teimei em carregar comigo onde quer que fosse
e caiu a primeira vez, mas como por milagre não quebrou
caiu n'água
mergulhei bem lá fundo, onde a pressão machuca o peito
e trouxe de volta das profundezas
e o guardei de outro jeito
deixei o cristal bem no alto do armário
onde só as minhas mãos poderiam alcançar
mas o passarinho sem ninho foi lá em cima cutucar
e com o bico empurrou
e caiu a segunda vez, mas como por milagre não quebrou
caiu no colchão
tão cheio de algodão que a queda amaciou
e o medo estava preso apesar da agitação
dei vivas às nuvens, e até ao meu São João
procurei, então, um novo jeito
pra prender aquele medo que não queria se conter
e no bolso da calça mais velha do vovô eu estava a esconder
e os anos passaram-se
e chegou o dia da grande festa
fantasia todos tinham que ter
e o rapaz chegou aflito, numa eterna agonia
não sabia o que vestir, não sabia o que trajar
eu de tola dei a idéia: por que no tempo não voltar?
se vestiu anos 18, só havia uma calça a usar
e descobriu meu medo no bolso fundo
e por não o conhecer só fez por detrás do muro jogar
e o que aconteceu?
o medo ganhou o mundo
dessa vez não houve milagres, pois no asfalto se quebrou
senti meus olhos cheios d'água
o medo se libertou.
1 Comments:
Li e em cada palavra me vi, em cada fuga, em cada tentativa de não libertar todo esse sentir.
Queria eu libertar meus medos e angústias aprissionados.
Ah, como eu queria.
:/
Amo-te!
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