verdade viva °°°

10.1.10

Conduzi meus passos trôpegos naquela lama derivada de uma pós chuva na cidade do sol. Eu sabia que havia um chuveiro em algum lugar próximo àquela varanda, mas o tempo nublado havia adiantado o nascimento da noite e isso dificultou tanto minha vida que precisei seguir com atenção necessária à poesia desajustada das gotas que caíam leves de um chuveiro quase quebrado. Encontrei-o.

Lavei-me como se fosse a última vez. Precisava me livrar de toda aquela lama, de toda aquela areia, de toda aquela saliva e de todo aquele tempo amarelado que tinha coberto minha pele durante todo o dia.

Fechei os olhos e ouvi negros cantarem blues, com seus suspensórios retrôs, gravatinhas e arcadas dentárias branquinhas, branquinhas. Entre cigarros, doses de uísque e o odor da embriaguês estava ela - a gaita - e o seu par perfeito. Espremia-se com tesão naquela devoradora boca e gritava deliciada naquela noite chuvosa, sem se importar com a vizinhança.

Ouvi tudo de olhos fechados enquanto tremia de frio, desejando que tudo se desmaterializasse de repente e que, após ter o que restou de mim descido pelo ralo, me sobrasse apenas uma voz negra de blues, romântica, baixinha, debaixo de um cobertor que balançasse com a rede em harmonia bem ali naquela varandinha abandonada.

3 Comments:

At 11.1.10, Blogger Bruno Costa said...

"Quem dera ser pó... e ser inalado pelas narinas de um Cazuza... e se transformar por inteiro em melodia"

 
At 11.1.10, Blogger Yuri Andrews said...

É só pra dizer que eu estou sempre aí pra ti, gata.




Anytime u need, ok?




Luv ya (L)

 
At 13.1.10, Anonymous Anônimo said...

Boca de gaita!
=}

 

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