verdade viva °°°

7.1.10

Madeline sente prazer com as pequenas alegrias que já foram perdidas. Consegue relaxar ao imaginar o calor do útero materno que lhe pertenceu, ou brinca de se lembrar o quanto deve ter sido gostoso ter seus pezinhos recém chegados ao mundo aquecidos com meias amarelas de croche. Amarela é sua cor preferida.

Madeline quando precisa refletir sobre o círculo que consiste a sua vida, dirige. Nem sempre em alta velocidade. Gosta de curvas fechadas porque sente prazer com o deslizar do volante sob suas mãos.

Sublime o seu rebolado. Remexe os quadris com tanta veemência até sentir o sangue quente queimar-lhe as veias, e então, se joga de costas ao chão e gargalha alto, feito uma louca.

Madeline é estranha.

Os amigos a chamam de Diaz. E tudo exatamente por causa da Cameron, sua sósia. "Vai para Hollywood, vai ser rica!", imploram os zombeteiros amigos. Madeline pouco se importa com riqueza, apesar de querer e gostar de se sentir confortável mesmo se precisar passar uma semana caminhando.

Ela gosta dos botecos sujos das rodoviárias. Tem cheiro de dinheiro sujo. Tem cheiro de banheiro sujo. Senta, pede uma cachaça e fica observando as pessoas irem e virem de todas as partes. Nem bebe, mas gosta do cenário. "O que se passa na cabeça daquela gorda neste momento?".

Madeline passava horas se preocupando com absurdos, como o que faz uma pessoa preferir a cor marrom à roxa.

Uma vez, numa festa, alisou os cabelos pretos de um rapaz e sentiu um atordoado desejo de tê-lo nos braços, mas em vez de agarrá-lo com todos os braços que podia entrou no carro e foi embora. Aqueles cabelos ficariam para sempre em suas mãos. Bonito rapaz.

Toda vez que viajava para um lugar impressionante , mesmo não sendo religiosa, agradecia ao bom Deus pela oportunidade e engolia sequencialmente as lágrimas que tentavam lhe escalar a garganta.
Já foi emotiva ao ponto de julgar-se frígida. Sofreu, até aparecer aquele que lhe curou os medos e controlou a sua ansiedade, apesar de ter sofrido um pouco mais quando foi mandada embora para nunca mais voltar.

Madeline aprendeu com Shakespeare que praticar a paciência é uma virtude. Quebra o equivalente a uma caixa de palitos de dente por turno.

Ela toca, corre e titubeia pelos ares. Só porque gosta de titubear, afinal, ela nem sabe ao certo o que isso quer dizer. Repete a palavra fralda cinco ou seis vezes por dia e nega seu sonho descontrolado de um dia ser mãe.
Suas amigas quase todas são mães. Madeline não quer ser apenas uma mãe, mas duas.

É responsável. Sabe da hora que o corpo precisa descansar, apesar de achar que isso não tem muito a ver com responsabilidade e sim com necessidade, mas Madeline não admite a falta de razão, e quando isso acontece, sente-se pesada.

Tem dificuldades em apontar opiniões. Cala-se para parecer menos tonta do que possam supor e com certeza seu sotaque carregado contribuiria. Madeline não fala pelos cotovelos, porque cotovelos ela só tem dois. Madeline fala pelos dedos, melhor, pelos cabelos. Por onde passa, o odor das suas palavras impressiona.

Curte flores e bombons. Nunca em excesso. Madeline odeia excessos. Quando acontece, vomita. Mas sempre acontece involuntariamente. De excesso já basta o amor que não existe.
Se fosse corajosa, amaria a todos.

3 Comments:

At 7.1.10, Blogger Bruno Costa said...

Acho que já conheci alguém parecida com Medeline... parabéns pelo texto!

: **

 
At 7.1.10, Anonymous Anônimo said...

"Madeline não fala pelos cotovelos, porque cotovelos ela só tem dois."
Pooorra!


=*

 
At 8.1.10, Blogger Anastácia Vaz said...

Eu sou um pouco Madeline!

Fiquei curiosa, queria sentir o odor das palavras dela.

=)

 

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